Corpo de prova

2017

blocos de concreto, cabo de aço, roldanas, sargentos e cunhas.

MuBE, Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, São Paulo

fotografia: Marcelo Arruda

 

Leia texto de Ana Maria Belluzzo

CORPO DE PROVA

O território da escultura pensado por Paulo Mendes da Rocha nasce ao ar livre, em pequena extensão com frente para duas ruas, num convite à franca visibilidade dos limites do lote, dos desníveis do solo, do recorte dos Jardins.

Ele conta que implantou o museu a partir de uma “pedra no céu”, figurando o ato inaugural da cobertura de concreto protendido de 60 m de comprimento, flutuando sobre o terreno. A marquise baliza o projeto no horizonte da avenida Europa e se torna primordial para a estruturação do espaço do museu em níveis, chegando a cota mais baixa no fundo do terreno. A plenitude estética dos projetos do Paulo contém, em si, questões da pintura e da escultura contemporânea. Por seu turno, artistas introduzem obras na configuração espacial do edifício a partir das próprias indagações, das próprias poéticas. Adentram, por imprevisíveis apropriações, o domínio espacial de âmbito comum. O que faz o MUBE um espaço vivo. É significativa tal reciprocidade entre artes e arquitetura, considerando a linguagem escultórica reintroduzida em especificidades locais e centrada na questão ambiental.

Nesta ocasião, Marcia Pastore realiza uma ação física diretamente sobre a marquise. Veste o bloco para desnudá-lo sob outra perspectiva, atenta a materialidade dos corpos, subordinados ao equilíbrio de forças. Sem se antecipar em desenho prévio, a proposta surge num corpo a corpo local. Dá lugar a um jogo de garras e amarrações, pesos e contrapesos a tatear o bloco. Ele é oferecido na montagem de ready mades, escolhidos em lojas de material para a indústria da construção ­– sargentos, ganchos, encaixes e travas, roldanas e cabos de aço e notadamente fios de prumo – que dão conta da geometria final. E com que graça! Até mesmo as peças de lastro não são extraídas do solo, mas cortadas de laje em canteiro de demolição. A obra conecta espaços e tempos, acumula saberes, subentende forças mecânicas. Introjeta longo arco de esforço humano.                                   

Ana Maria Belluzzo